A gordura saturada é um daqueles assuntos da nutrição que já
foi de vilão a mocinho. Ainda há uma certa confusão quando falamos deste tipo
de assunto, pois por muitos anos ela foi condenadíssima.
A gordura é um nutriente que promove bastante saciedade e
ativação do centro de prazer no nosso cérebro. De uma maneira geral, quando há
uma redução no consumo de gorduras tendemos a aumentar o consumo de
carboidratos, em especial os refinados de alto índice glicêmico, como arroz
branco, pão, açúcar, doces, etc. Isso ocorre especialmente por esses alimentos
também causarem uma sensação de prazer quando consumidos.
Isto foi o que aconteceu com a indústria de uns anos pra cá.
Depois do boom que a gordura fazia mal, começaram a desenvolver produtos light
e diet, tendo substituído a gordura natural de alguns alimentos (como o leite
integral) por alimentos com menos gorduras e mais carboidratos (como o leite
desnatado, por exemplo).
Mas o grande problema de tudo
isso é que o aumento do consumo destes carboidratos pode levar ao
desenvolvimento da dislipidemia aterogênica associada a resistência à insulina
e a obesidade, o que inclui aumento de triglicerídeos, LDL pequenas (que são as
mais perigosas) e redução do HDL-colesterol. A grande ingestão de carboidratos
ainda estimula a síntese hepática de gordura saturada, ou a chamada síntese de novo. Portanto, não consumir gorduras
saturadas e consumir mais carboidratos faz com que seu próprio corpo aumente a
produção de gordura saturada endógena (interna) pelo fígado.
Mas afinal, consumir gorduras saturadas faz mal ou não? Não!
Isoladamente sabemos que o consumo de gordura saturada não faz mal, obviamente
desde que não seja um consumo excessivo (como tudo o que comemos!). A gordura
saturada pode atuar como inflamatória em pouquíssimas pessoas devido a um
polimorfismo, ou seja, um tipo de alteração genética. Estes sim podem estar
susceptíveis a este quadro inflamatório por alguns tipos de gorduras saturadas,
mas isso é uma MINORIA! A maioria da população não se encaixa neste quadro.
O problema está nos extremos, ou seja, o excesso do consumo
de gordura saturada associada a um quadro inflamatório, com excesso de carboidratos
refinados, estilo de vida inadequado, fumo, sedentarismo, etc. Portanto,
temos que levar em consideração os efeitos na saúde de toda a dieta, o
efeito inflamatório da dieta associado a fatores não dietéticos, em oposição a
uma visão limitada em se estudar os nutrientes apenas isolados.
A minha única ressalva é a seguinte: quando falamos do
consumo de gordura saturada de origem animal, sabemos que atualmente os animais em geral são alimentados com rações ricas em ômega 6, agrotóxicos e antibióticos. Estes xenobióticos
são armazenados na gordura dos animais e acabamos ingerindo os mesmos quando consumimos desta gordura. Os estudos mostram que a concentração alta de xenobióticos no nosso organismo está correlacionada com PCR
alta, diabetes tipo 2, incidência de síndrome metabólica e doenças
cardiovasculares, ou seja, ser mais “poluído” internamente causa resistência a
insulina por dano mitocondrial. Portanto, vale a pena ter cuidado com seu
consumo excessivo, justamente por estas questões que hoje fazem parte do nosso
dia-a-dia, já que a maioria da população não tem acesso fácil ao animal criado
solto, sem estas condições.
Para finalizar: não vale dizer que comer gordura saturada
vai te matar e também não vale só comer gordura saturada. Você pode ter o
consumo desta gordura dentro de um plano alimentar adequado, anti-inflamatório,
mantendo um estilo de vida saudável e sempre consumindo a gordura natural dos
alimentos. E viva sua vida feliz! Sem extremismos e radicalismos.
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